MARIANA VIOLANTE
Quando a crise aperta, começa a “caça” ao imigrante, ao excluído, ao “outro”. Nunca falha! O curioso é que se cá não estivessem a contribuir para a nossa economia, o País estaria em muito piores “lençóis”, um facto que nem a extrema-direita se atreve a desmentir.
É a mais velha história do mundo do trabalho. Quando a crise começa a apertar e os meses a ficar cada vez mais longos para os salários de miséria que “ganhamos”, alguém tem de levar com as culpas.
E claro que não é quem paga pouco que vai levar com essa culpa. Era o que faltava. Não! Quando a crise aperta, começa a “caça” ao imigrante, ao excluído, ao “outro”. Nunca falha!
São várias as razões e as vantagens desta estratégia. Primeiro que tudo, porque o imigrante – que tem mais em comum com a maioria dos trabalhadores do que com as elites mal pagantes – parece muito mais diferente do que aquilo que verdadeiramente é. Fala outra língua, tem outra cor de pele, a cultura tem algumas diferenças, tudo óptimas características para nos fazerem crer que são de outro planeta para onde devem voltar, porque são os verdadeiros causadores dos problemas.
Se vivem em casas sobrelotadas, não é devido à especulação imobiliária ou por ganharem salários de miséria (quantos de nós temos de dividir casas com a família, quantos de nós ficamos sem ordenado antes do fim do mês?!), mas porque não cabem cá, claro! O curioso é que se cá não estivessem a contribuir para a nossa economia, o País estaria em muito piores lençóis, um facto que nem a extrema-direita se atreve a desmentir.
EXPLORAÇÃO E LUCRO GANANCIOSO
Os números falam por si [ver artigo em baixo] e, ao contrário do que nos queriam vender, facilmente se demonstrou que a população activa imigrante ajuda a sustentar a nossa economia e os nossos serviços públicos. É então aqui que surge sempre outro argumento clássico: “os imigrantes roubam-nos o trabalho, e trabalham por menos!” E muitos de nós, incautos e de reacção fácil, até acreditamos à primeira nesta falácia, sem perceber que este é o busílis da questão: a culpa dos nossos salários de miséria, da nossa vida despedaçada e precária não é de quem ganha ainda menos que nós e tem vidas ainda piores. É de quem quer pagar ainda menos a nós e a eles.
É que, apesar de tudo, o nosso país ainda tem leis que pretendem fazer valer os Direitos Humanos, o que é muito caro para quem precisa de explorar ainda mais para aumentar o seu lucro ganancioso.
Por isso é que ainda há por aí quem pretenda fazer referendos ocos que em nada contribuirão para fazer parar a entrada de trabalhadores estrangeiros em Portugal, apenas os irão empurrar para a clandestinidade, e aumentar a precariedade das suas condições de vida, e aos restantes para piores condições de vida também. Alguns dos que subscrevem estas “narrativas” são os mesmos “cidadãos de bem” que, depois, terão nas suas empresas esses mesmos trabalhadores desprotegidos, desamparados e escravizados.
De uma vez por todas, temos de começar a conseguir ver que os homens que nos dizem que os imigrantes querem a nossa mísera fatia de bolo estão sempre, mas sempre, a falar de boca e barriga cheia, todos lambuzados, com arcas frigoríficas infinitas de pão de ló debaixo de si.
CONTRIBUIÇÕES SÃO SETE VEZES SUPERIOR AO QUE RECEBERAM
Imigrantes deram mais de 1600 milhões de euros de saldo à Segurança Social
Mantém-se a tendência de os cidadãos estrangeiros terem maior capacidade contributiva do que os nacionais. E o Observatório das Migrações diz que, “sem os imigrantes, alguns sectores económicos entrariam em colapso” em Portugal.
Os imigrantes contribuíram com 1861 milhões de euros para a Segurança Social em 2022, enquanto beneficiaram de cerca de 257 milhões de euros em prestações sociais, ou seja, o valor das contribuições é sete vezes superior ao das prestações que receberam. Desta forma, verificou-se um saldo positivo das contribuições dos imigrantes de 1600 milhões de euros naquele ano.
Dados do Banco de Portugal indicam que ganham menos do que os portugueses: em 2023, a mediana das suas remunerações mensais situou-se em 769€ nos trabalhadores jovens e em 781€ nos com mais de 35 anos. Para os trabalhadores nacionais, os valores são, respectivamente, 902€ e 945€.
Já o Observatório das Migrações (OM) diz que os imigrantes são 7,5% da população residente e 13,4% do total de trabalhadores, tendo o peso entre os contribuintes para a Segurança Social subido para 13,5%, mantendo-se, em 2022, a tendência de os estrangeiros terem maior capacidade contributiva: 87%, face a 48% para os portugueses.
O relatório do OM revela, igualmente, que os estrangeiros estão em trabalhos precários, mal pagos e mais arriscados, e por estarem em categorias abaixo das suas qualificações, trabalham também mais horas semanalmente. E apesar de terem uma taxa de desemprego mais do dobro da dos portugueses, e com menos contratos sem termo, recorrem muito menos às prestações da Segurança Social.