António Marques
UM MUSEU DA BIODIVERSIDADE
O Parque Natural de Montesinho, um dos maiores de Portugal e cujo ponto mais alto sobe aos 1486 metros, ocupa uma extensa área de mais de 74 mil hectares, situando-se na chamada Terra Fria Transmontana, no extremo nordeste do nosso país, entre os concelhos de Bragança e Vinhais.
O Parque Natural de Montesinho é um dos espaços naturais mais fascinantes do nosso país, no interior do qual encontramos cerca de 90 aldeias com uma vida e uma característica do mais genuíno que poderemos conhecer.
Do Alto dos Montes vemos uma paisagem deslumbrante, de colinas arredondadas com uma exuberante vegetação, além de conter, também, uma grande diversidade de espécies raras e endémicas, típicas desta área, sendo que a fauna selvagem representa também uma riqueza única deste território, com destaque para o lobo, o veado vermelho e, claro, a profusão de javalis e uma infinidade de pássaros e aves de rapina.
Os pontos mais altos do parque são as serras de Coroa (1273 m) e de Montesinho (1486 m). Também existem vales sulcadas por vários rios, que vale a pena conhecer, nomeadamente através de um passeio a pé ou de bicicleta (existem trilhas marcados), para admirar a paisagem, especialmente na Primavera e no Outono, num percurso em que não faltam idílicas cascatas e praias fluviais, para uns refrescantes banhos depois das caminhadas.
Quanto às saborosas especialidades da gastronomia local, genuína e ancestral, que ajudam a recompor os corpos e até a alma, sobressai a famosa Posta, os enchidos de porco bísaro, o delicioso cabrito do Montesinho ou a carne de javali da montanha, acompanhado de castanhas e doçarias feitas com o melhor mel de Portugal.
O apelo de cada estação
Os transmontanos, na sua gíria, dizem que têm nove meses de Inverno e três de Inferno, porque o clima característico apresenta Invernos muito frios e nevados, e Verões quentes, embora aceitáveis.
A Primavera e o Outono são épocas amenas e, talvez por isso, as estações do ano mais aconselhadas para percorrer os caminhos infindáveis do Montesinho. É na Primavera que os rios, riachos e ribeiras transbordam de caudal e mostram o seu lado mais selvagem e pitoresco. E somos brindados com os montes pintados de tons florais dos matos de esteva, giesta e urze. Campos agrícolas e lameiros, soutos, azinhais e carvalhais completam o mosaico de verdes intensos.
As aldeias, muito genuínas, mantêm a arquitectura popular transmontana, feitas de blocos de granito, telhados de lousa e varandas projectadas em madeira resistente apresentando um aspecto que chega a emocionar.
Dentre as cerca de 90 aldeias, e na impossibilidade de as visitar todas que bem mereciam, referiremos apenas Dine, Guadramil e Moimenta.
Já na Aldeia de Montesinho, que empresta o seu nome ao Parque, as ruas calcetadas e bem tratadas conduzem-nos à Igreja, ao Núcleo Interpretativo do Parque e ao Museu, instalado numa casa típica transmontana, onde podemos conhecer a geologia, a etnografia e os usos e costumes da região.
Embrenhados na Natureza
Um dos trilhos mais famosos do parque dá pelo nome do Porto Furado. A partir da Aldeia do Montesinho, sobe aos 1300 metros, através de lameiros, giestais e urzes do monte, e dá a conhecer o maravilhoso vale do Rio Sabor. Este percurso contorna a Barragem da Serra Serrada, que recebe as águas da ribeira das Andorinhas, e visita também a pequena represa e o canal do Porto Furado, que os romanos usaram para a exploração do ouro. E no Castro Curisco recebemos uma aula de arte rupestre, onde sete rochas atestam a presença de civilizações antiquíssimas. E com sorte, ao longo deste percurso de 8 km, contaremos com a companhia de uma raposa matreira, um corço esquivo, um veado elegante ou avistaremos fugazmente um lobo ibérico.
In Jornal do STAL n.º 122